Entrevista: O Bem Viver como única saída

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ODS - ONU

Maria Teresa Viana de Freitas Corujo (Teca) é integrante do Movimento pela Preservação da Serra do Gandarelagrupo que reúne várias organizações com o objetivo de preservar esse importante aquífero em Minas Gerais e que conta com o apoio do Fundo Socioambiental CASA (link para casa.org.br) em um  projeto voltado ao turismo de base comunitária. Na entrevista, ela fala sobre os desafios de ser uma liderança feminina na consolidação de novas atitudes em prol da sustentabilidade ambiental.

 

O que significa para você, como mulher, ser uma liderança na preservação da Serra do Gandarela?

Significa estar no lugar certo e atender um chamado do meu “ser” mais profundo, no qual está o amor e o cuidar no sentido mais incondicional, usando minhas aptidões e aprendizagens. Sinto que ser mulher facilita este engajamento porque estamos mais perto de saberes como a intuição e a sensibilidade, que são blindados no ser homem por razões culturais. A luta na qual estou envolvida intensamente há oito anos significa muito esforço, determinação, coragem e, principalmente, capacidade de superar diariamente a indignação, a raiva, o medo e o cansaço e transformar isso tudo que vivenciamos para preservar a Serra do Gandarela em muita ação e foco no sonho e na certeza de que não podemos permitir a destruição desse lugar porque é um direito nosso e das futuras gerações. 

 

Como é a relação das mulheres indígenas com a água?

Na região da Serra do Gandarela não existem povos indígenas porque foram dizimados ou fugiram quando da chegada dos vorazes bandeirantes que adentraram Minas Gerais na busca por ouro (especialmente no Rio das Velhas) e pedras preciosas. Mas conhecemos vários moradores da região cujas avós e bisavós foram “caçadas a laço” por bandeirantes. Ao redor da Serra do Gandarela existem pequenas comunidades rurais que têm uma relação muito estreita com a água porque ela ainda é abundante e de qualidade, com dezenas de cachoeiras belíssimas. Para eles essa relação faz parte da sua identidade e forma de ser e de viver no território.

 

Como você avalia o desafio de tornar a sustentabilidade uma prática cotidiana?

É um grande desafio porque vivemos numa sociedade onde as instâncias de poder e de gestão do interesse coletivo (eleitos ou pagos pelos brasileiros) trabalham para atender uma economia voltada ao interesse privado de grandes grupos e empresários, que acumula riqueza num modelo baseado no lucro e que não quer a “sustentabilidade” ambiental e social atrapalhando seus projetos. Assim, não temos nas cidades acesso fácil e barato a alimentos sem agrotóxico, a transporte coletivo de qualidade e ecologicamente correto, a serviços de saneamento básico (que envolve acesso a água de qualidade, esgotamento sanitário e adequada disposição ou reutilização de resíduos orgânicos e sólidos) e não temos nas áreas rurais apoio aos pequenos produtores, pescadores, ribeirinhos, quilombolas, indígenas e comunidades tradicionais, que ainda praticam (ou tentam) a sustentabilidade ambiental nas suas práticas de viver nos territórios. Assim, mesmo que eu tente praticar diariamente a sustentabilidade, e toda a população faça o mesmo, não vamos resolver os graves problemas ambientais que já vivemos como a escassez ou colapso de água em muitos lugares.  

 

Se você pudesse indicar uma atitude que pode transformar o mundo, qual seria e por quê?

Na atual conjuntura, não é só uma questão de “indicar”, porque muitas atitudes vêm sendo indicadas há muito tempo por povos, cientistas e movimentos sociais e ambientais, e nossos governantes, gestores e políticos continuam decidindo na contramão do que pode transformar o mundo,  para manter um modelo econômico voraz sobre nossos “bens naturais” sem os quais não há sustentabilidade. Por isso vivemos seríssimos problemas na Terra, como o aquecimento global, que está colocando em risco a vida, não só dos demais seres, como da raça humana. Gostaria de ter uma varinha mágica com a qual eu cessaria, de vez, esse modelo em todos os seus aspectos, para permitir que o “bem viver” se instaure no mundo a partir de muitas experiências e vivências que já estão espalhadas na Terra, porque tenho certeza que a maioria da humanidade sonha com isso, anseia por esse momento e está pronta para essa transformação, que é a única saída que temos. 

 

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